Por
Cadu Araújo

E
as ideias passam por nossas cabeças e vidas e nós passamos por elas
absorvendo-as ou expurgando-as. Há um grande conflito, por exemplo, no
pensamento dos artistas, digo, aqueles que fazem cultura e não a arte por
dinheiro, uma efervescência entre matéria e a expressão das ideias.
Simplificado, seria como se a todo momento quiséssemos nos despir desse mundo
físico, “banal” e nos concentrarmos no limite do mundo, ou seja, nas ideias.
Uma busca insaciada e incessante pelo metafísico, procurando migalhas do
universo imaginário, desejando que entrem pelos nossos poros e caminhe por
nossas almas sedentas de arte…
Mas
aí surge o mundo material sempre a nos engolir, assim como o id que corre com
correntes coladas ao Ego, e nos inibe e agride nossos esplendores de desejos
com seu arsenal de racionalidade, fazendo-nos retornar ao mundo real, colocando
o universo hiper-real como fantasia ou futilidade.
É
a lâmpada que queimou, o gás que secou, o dinheiro que não saiu, o cheque que
voltou; comprar pão, é o big brother, é a missa no domingo, são as CPI’s de
palavras burocráticas; tá faltando isso, aquilo, a ração do gato… É de matar!!
(“de ver a burguesia naufragar até o mar”)…
E
ainda dizem que é coisa de doido pensar numa comunhão artística, músicos,
intervenções, poemas-processos, clássicos encenados para jovens de novas
gerações, um estudo de culturas ecológicas, neo-expressionistas, “ignoto
mundi”, abstracionismo musicais, distorções e sonoplastias em instalações
pitorescas, arte de rua; nas paredes os naif , art noveau, arte Op,
cubista-ocultistas, obras anarquistas, poemas etílicos, poemusicas,
essencialistas, naturalistas; no palco um reggae Dub, passando ao rock indie melancólico,
ao psicodélico a la Kitaro.
Todos
com seus espaços, tudo misturado no mesmo espaço aberto a tudo. Uma comunhão
das diferenças na busca da igualdade respeitada, simples artes na busca da
complexidade, a luz das cores e formas infinitas das lunetas do pensamento
artístico!!!
E
por falar em viajem, loucura, o que será que está fazendo os políticos e
promotores da cultura agora??!!! Talvez em seus ranchos cultivando sua
ignorância e menosprezando a arte… Até mesmo a arte de viver, marcando com
ferros quentes seus bois e dando-lhes nomes e engodos… Deve estar a falar:
Aaaahh!! Como era lindo quando conseguíamos camuflar tudo na intenção de tornar
uma cidade linda aos olhos ingênuos!!!
Isso
tudo que lhes digo, digo certo, estou viajando… Ou não! Mas sinto naqueles
que acabam ficando cegos para poderem guiar, um certo egoísmo em gerenciar uma
“classe”, como dizem. Quem poderia imaginar que cuba seria socialista um dia?
Claro que sim, os jovens incendiários do passado, hoje são os bombeiros que tentam
apagar seu passado, ou não!
Por
exemplo, quando se é jovem, tem-se o prazer de no dia seguinte vangloriar-se
pelo que fizemos na noite passada, como ter tomado todas, ou ter ido à um clube
e conhecido alguns amigos. Mas quando se está no pós-30 anos de vida, o porre é
somente fonte de vergonha e carência.
E
por falar em animal, eis os pensamentos que transcendem o enigmático mundo da
sexualidade. Seria como se buscássemos “os sexos dos anjos” – se nem ao menos
sabermos o que são, imagine saber seu sexo?! Só mesmo o homem para continuar a
encontrar novos meios de explorar os órgãos sexuais, re-significando a boca, o
reto, a mão, a pele, a língua, o dedo, indo muito além dos escritos científicos
biológicos.
E
por falar em cachaça, o álcool torna-se mais um agregado da dominação. Diante
de uma questão sobre porque os adultos bebem tanto, o fator da presença do
álcool pesa mais que a falta de condições econômicas e culturais para usufruir
de outro tipo de lazer. E os “bares da vida” assim se enchem daqueles humanos
que não ligam nem o mínimo para as ideias que colocamos aqui, embora seja
necessário dizer que nem um, nem outro, estão certos ou errados.
As
ideias tem também seu lugar. Quem ousaria falar de Heidegger na fila do banco?
Ou quem justificasse a fauna através da arca de Noé no curso de filosofia? Ou
quem seria nazista no nordeste? Pode ter certeza: isso se faz…
Falando
assim em aleatório até parece enrolação, mas é a conexão de pensamentos, a
complexidade do pensamento, como diz à 60 anos um francês que hoje tem seus 90
e poucos.
E
pra você vê, tantas ideias são e estão e outras continuam sendo. Eis a duvida:
este é o mundo das ideias ou as ideias que são o mundo??…Só sei que “do chão
ao céu e da boca ao reto” muito se vangloria, outros oprimem e outros se calam,
mas isso tudo foi quando tudo se dissolveu.
*Frase
contida na música “Excesso exceto”, do compositor Lenine.

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