Documento obtido por ÉPOCA revela que novos delatores montaram uma rede
de contas na Suíça e em Israel para pagar pedágio cobrado pelo presidente da
Câmara


Por FILIPE COUTINHO, COM THIAGO BRONZATTO E
ALANA RIZZO


Dois
novos delatores confessaram à Procuradoria-Geral da República que o presidente
da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), cobrava propina para liberar dinheiro do
FI-FGTS para empresas e recebia os valores em contas até agora desconhecidas,
na Suíça e em Israel, segundo documento obtido por ÉPOCA. No total, a PGR
afirma que reuniu provas de R$ 52 milhões em propina, divididas em 36
prestações. A revelação foi feita na delação premiada de Ricardo Pernambuco e
Ricardo Pernambuco Júnior, da empreiteira Carioca Engenharia.


Ao
contrário dos outros casos da Lava Jato, a dupla afirma que a propina
foicobrada diretamente por Eduardo Cunha, sem intermediários, em encontros
pessoais. Os delatores detalham até os centavos da propina paga para receber R$
3,5 bilhões do Fundo de Investimento do FGTS, o FI-FGTS, para uma obra no Rio.
Há mais: o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, também trocou mensagens diretas
com Cunha, justamente para tratar da liberação de valores do FGTS.

As
evidências foram levadas ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal
Federal, relator da operação Lava Jato que autorizou dezenas de buscas na
última terça-feira. Entre os alvos, está Fábio Cleto, indicado para cuidar das
loterias e do FGTS para uma diretoria da Caixa Econômica Federal. Ele era
indicado por Cunha e foi nomeado com o aval da presidente Dilma Rousseff – ele
deixou o cargo na semana passada.
 
“Seguindo no esquema ilícito, Eduardo Cunha se valia de sua influência
sobre Fábio Cleto para aprovar a liberação dos investimentos do FI-FGTS e
cobrava valores neste sentido dos empresários interessados”, diz a PGR. Em
2014, o FI-FGTS tinha R$ 31,9 bilhões em ativo total e tinha participação em 44
projetos, segundo o seu relatório de gestão.

A
delação premiada da Carioca Engenharia inclui até uma tabela com os valores das
propinas. “Eduardo Cunha deu uma conta de um banco chamado ISRAEL DISCOUNT BANK
para fazer a transferência de parte dos valores. O depoente preparou uma
tabela, com data, conta de onde saiu e do destinatário dos valores, no montante
total de US$ 3.984.297,05”, diz o documento.

Ricardo
Pernambuco é taxativo: “em relação a estas transferências tem absoluta certeza
que foram destinadas para Eduardo Cunha”, diz o delator. Há outras provas. A
secretária de Pernambuco tentou, em 16 de agosto de 2011, agendar uma reunião
com Cunha e enviou e-mail ao deputado, perguntado qual seria a pauta. Cunha foi
curto e grosso: “Ele está a par. Só avisar q sou eu!”.

“Túnel Suíço”: o código da propina enviada a Suíça
De
acordo com a investigação, Pernambuco usava um código para tratar da propina a
Eduardo Cunha e o envio de dinheiro para Suíça: o túnel suíço. Em e-mail a um
terceiro em 26 de abril de 2012, Pernambuco cobra o envio do montante. “Sobre o
envio ‘ao nosso amigo’ de ‘um livro de 181 páginas sobre túneis suissos’, e que
seria conveniente “confirmar se recebeu o livro e seu gostou das
fotos”. Segundo o delator, a propina foi paga até setembro do ano passado.
Ou seja, a Lava Jato já estava na praça há seis meses.

Porto
Maravilha: a liberação do FI-FGTS
A
Carioca Engenharia fazia parte do consórcio responsável pelo Porto Maravilha e
contava com a liberação de dinheiro do FI-FGTS para tocar a obra. Com R$ 8
bilhões em investimentos, o projeto se tornou um símbolo de projeto de
revitalização urbana no Rio de Janeiro. O programa, iniciado em 2009, tem como
objetivo criar um novo centro urbano, com uma ampla rede de infraestrutura,
edifícios empresarias e residenciais, além de ciclovias e mais opções de
transporte público como o Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT). O empreendimento
abrange a restauração de uma região portuária de 5 milhões de metros quadrados
– que tem como áreas limítrofes as avenidas Presidente Vargas, Rodrigues Alves,
Rio Branco e Bicalho e compreende os bairros de Santo Cristo, Caju Gamboa, Saúde
e Centro. A obra é uma das maiores Parcerias Público-Privadas (PPP) do Brasil.


mais. A operação Lava Jato descobriu mensagens diretas entre Eduardo Cunha e o
empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS. Pinheiro fala com Cunha sobre dinheiro do
FGTS. Detalhe: a conversa foi travada por mensagens de celular em 7 de novembro
do ano passado, uma semana antes do empreiteiro ser preso.

Diz
Cunha: “Deixa que fdss entro a vero em cima dele e resolverei a nossa parte’.
Quatro dias depois, Cunha vai além e garante que resolve dentro da Caixa
Econômica e reclama do Ministério das Cidades. “Lá eu mudo isso tudo fácil mas
cidades não”.

Além
dos casos da Carioca Engenharia e OAS, a PGR recebeu da Justiça do Rio
documentos de uma outra investigação, na qual um consultor também trazia
anotações sobre a relação de Eduardo Cunha e Fábio Cleto. “A anotação indica
que Eduardo Cunha e Fábio Cleto cobraram propina em troca de liberação de
verbas do FI-FGTS”, diz a PGR.

Procurado,
o advogado Alexandre Garcia de Souza, que defende Eduardo Cunha, afirma que não
teve acesso ao material e que, dessa forma, não terá como prestar
esclarecimentos. O diretor da Caixa Fábio Cleto não foi localizado.



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Documento obtido por ÉPOCA revela que novos delatores montaram uma rede
de contas na Suíça e em Israel para pagar pedágio cobrado pelo presidente da
Câmara


Por FILIPE COUTINHO, COM THIAGO BRONZATTO E
ALANA RIZZO


Dois
novos delatores confessaram à Procuradoria-Geral da República que o presidente
da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), cobrava propina para liberar dinheiro do
FI-FGTS para empresas e recebia os valores em contas até agora desconhecidas,
na Suíça e em Israel, segundo documento obtido por ÉPOCA. No total, a PGR
afirma que reuniu provas de R$ 52 milhões em propina, divididas em 36
prestações. A revelação foi feita na delação premiada de Ricardo Pernambuco e
Ricardo Pernambuco Júnior, da empreiteira Carioca Engenharia.


Ao
contrário dos outros casos da Lava Jato, a dupla afirma que a propina
foicobrada diretamente por Eduardo Cunha, sem intermediários, em encontros
pessoais. Os delatores detalham até os centavos da propina paga para receber R$
3,5 bilhões do Fundo de Investimento do FGTS, o FI-FGTS, para uma obra no Rio.
Há mais: o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, também trocou mensagens diretas
com Cunha, justamente para tratar da liberação de valores do FGTS.

As
evidências foram levadas ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal
Federal, relator da operação Lava Jato que autorizou dezenas de buscas na
última terça-feira. Entre os alvos, está Fábio Cleto, indicado para cuidar das
loterias e do FGTS para uma diretoria da Caixa Econômica Federal. Ele era
indicado por Cunha e foi nomeado com o aval da presidente Dilma Rousseff – ele
deixou o cargo na semana passada.
 
“Seguindo no esquema ilícito, Eduardo Cunha se valia de sua influência
sobre Fábio Cleto para aprovar a liberação dos investimentos do FI-FGTS e
cobrava valores neste sentido dos empresários interessados”, diz a PGR. Em
2014, o FI-FGTS tinha R$ 31,9 bilhões em ativo total e tinha participação em 44
projetos, segundo o seu relatório de gestão.

A
delação premiada da Carioca Engenharia inclui até uma tabela com os valores das
propinas. “Eduardo Cunha deu uma conta de um banco chamado ISRAEL DISCOUNT BANK
para fazer a transferência de parte dos valores. O depoente preparou uma
tabela, com data, conta de onde saiu e do destinatário dos valores, no montante
total de US$ 3.984.297,05”, diz o documento.

Ricardo
Pernambuco é taxativo: “em relação a estas transferências tem absoluta certeza
que foram destinadas para Eduardo Cunha”, diz o delator. Há outras provas. A
secretária de Pernambuco tentou, em 16 de agosto de 2011, agendar uma reunião
com Cunha e enviou e-mail ao deputado, perguntado qual seria a pauta. Cunha foi
curto e grosso: “Ele está a par. Só avisar q sou eu!”.

“Túnel Suíço”: o código da propina enviada a Suíça
De
acordo com a investigação, Pernambuco usava um código para tratar da propina a
Eduardo Cunha e o envio de dinheiro para Suíça: o túnel suíço. Em e-mail a um
terceiro em 26 de abril de 2012, Pernambuco cobra o envio do montante. “Sobre o
envio ‘ao nosso amigo’ de ‘um livro de 181 páginas sobre túneis suissos’, e que
seria conveniente “confirmar se recebeu o livro e seu gostou das
fotos”. Segundo o delator, a propina foi paga até setembro do ano passado.
Ou seja, a Lava Jato já estava na praça há seis meses.

Porto
Maravilha: a liberação do FI-FGTS
A
Carioca Engenharia fazia parte do consórcio responsável pelo Porto Maravilha e
contava com a liberação de dinheiro do FI-FGTS para tocar a obra. Com R$ 8
bilhões em investimentos, o projeto se tornou um símbolo de projeto de
revitalização urbana no Rio de Janeiro. O programa, iniciado em 2009, tem como
objetivo criar um novo centro urbano, com uma ampla rede de infraestrutura,
edifícios empresarias e residenciais, além de ciclovias e mais opções de
transporte público como o Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT). O empreendimento
abrange a restauração de uma região portuária de 5 milhões de metros quadrados
– que tem como áreas limítrofes as avenidas Presidente Vargas, Rodrigues Alves,
Rio Branco e Bicalho e compreende os bairros de Santo Cristo, Caju Gamboa, Saúde
e Centro. A obra é uma das maiores Parcerias Público-Privadas (PPP) do Brasil.


mais. A operação Lava Jato descobriu mensagens diretas entre Eduardo Cunha e o
empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS. Pinheiro fala com Cunha sobre dinheiro do
FGTS. Detalhe: a conversa foi travada por mensagens de celular em 7 de novembro
do ano passado, uma semana antes do empreiteiro ser preso.

Diz
Cunha: “Deixa que fdss entro a vero em cima dele e resolverei a nossa parte’.
Quatro dias depois, Cunha vai além e garante que resolve dentro da Caixa
Econômica e reclama do Ministério das Cidades. “Lá eu mudo isso tudo fácil mas
cidades não”.

Além
dos casos da Carioca Engenharia e OAS, a PGR recebeu da Justiça do Rio
documentos de uma outra investigação, na qual um consultor também trazia
anotações sobre a relação de Eduardo Cunha e Fábio Cleto. “A anotação indica
que Eduardo Cunha e Fábio Cleto cobraram propina em troca de liberação de
verbas do FI-FGTS”, diz a PGR.

Procurado,
o advogado Alexandre Garcia de Souza, que defende Eduardo Cunha, afirma que não
teve acesso ao material e que, dessa forma, não terá como prestar
esclarecimentos. O diretor da Caixa Fábio Cleto não foi localizado.



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