Um
incêndio de grandes proporções atingiu, na tarde desta segunda-feira, 21, o
Museu da Língua Portuguesa, na Praça da Luz, no centro de São Paulo. O
brigadista local Ronaldo Pereira da Cruz morreu após tentar combater as chamas.
A Estação da Luz, que funciona no mesmo complexo, foi evacuada e os trens
pararam de circular. A área não tem o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros
(AVCB) nem o alvará de funcionamento da Prefeitura. As causas do fogo ainda são
investigadas.
Mais
de 60 viaturas e 102 homens do Corpo de Bombeiros atuaram no combate ao fogo.
“Uma amiga veio e avisou que estava pegando fogo na Estação da Luz. Começou por
volta das 16h15, 16h20, que é quando faço uma pausa. Só tinha um carro pequeno
do Corpo de Bombeiros, com uma mangueira. Um segurança da Pinacoteca levou
outra mangueira para eles. Os outros bombeiros demoraram uns 15 minutos. Não
era dia de visitação nem no Museu da Língua Portuguesa nem na Pinacoteca, o que
foi sorte”, disse Aline Stivaletti, educadora na Pinacoteca, prédio à frente.
O
capitão Marcos Palumbo, do Corpo de Bombeiros, afirmou que o incêndio teve
início no primeiro andar. “Depois, ele se alastrou por todo o prédio.” Logo, a
fumaça se espalhou pela Estação da Luz e pelo entorno. Por volta das 17h10, os
bombeiros informaram que as chamas foram controladas e o incêndio estava em
fase de rescaldo. No entanto, por imagens aéreas de helicópteros, era possível
notar que grandes labaredas ainda prosseguiram por cerca de uma hora.
Nesse
horário, na vizinha Rua José Paulino, algumas lojas que costumam fechar às 19
horas tiveram de cerrar as portas. A vendedora Josiane Maria da Anunciação, por
exemplo, até que tentou fechar o comércio. “Mas não deu, porque tinha muita
gente querendo sair e mais um monte vindo para se esconder. Achei perigoso e a
loja ficou aberta”, afirmou.
Em
um estacionamento ao lado houve correria de clientes assustados para retirar os
carros, como relatou o manobrista Joelson Soares Diniz, de 24 anos. “Tinha
gente desesperada para tirar logo o carro.”
Mas
a tragédia atraiu curiosos, que permaneciam ao redor do museu, observando as
chamas. Cirilo Nunez, de 62 anos, fez isso por 1h30. “Quando cheguei a São
Paulo pela primeira vez, em 1970, desci nesta estação. Fiquei bobo com tudo”,
afirmou o boliviano.
O
temporal alagou a região na sequência e os bombeiros tinham dificuldades em
combater as chamas, que se alastraram pelas vigas de madeira. Às 20 horas,
ainda havia fumaça, mas o fogo estava extinto.
Morte
e reconstrução
.
Alckmin
esteve na área à noite e lamentou a morte do bombeiro civil no incêndio. “Quero
transmitir os sentimentos ao Ronaldo Pereira da Cruz, brigadista que perdeu a
vida no trabalho, tentando controlar esse incêndio, essa tragédia. Nosso
integral apoio à sua família”, disse. O governador afirmou ainda que vai
“imediatamente tomar todas as providências para a reconstrução (do Museu da
Língua Portuguesa)”. “Vamos nos unir à iniciativa privada de novo.”
A
Fundação Roberto Marinho, responsável pela concepção e instalação do museu em
2006 (ao custo de R$ 37 milhões), também lamentou a morte. “Estamos solidários
e vamos nos reunir com o governo do Estado (para discutir a recuperação do
museu). A ironia do destino é que hoje pela manhã eu e o secretário de Cultura,
Marcelo Araújo, nos falamos ao telefone sobre criarmos novas dinâmicas para o
museu, que completa 10 anos em 2016”, contou o secretário¬geral da fundação,
Hugo Barreto.
Uma
arquiteta da fundação seguiu para São Paulo no fim da tarde desta segunda, para
atuar com a equipe da Secretaria de Estado de Cultura. “O fogo atingiu parte
significativa do prédio, das estruturas expositivas. Temos backup do conteúdo
que roda no museu. Mas as telas de vídeo, as ferramentas de audiovisual,
computadores… Só mais à frente é que saberemos”, afirmou Barreto.
O
secretário estadual da Cultura, Marcelo Mattos Araújo, destacou que o processo
de restauração do museu “será o mais rápido possível”. “Mas o prédio foi muito
afetado. As instalações da Praça da Língua, do auditório, tudo foi destruído.”
Em nota oficial, mais tarde, a secretaria destacou que o local tem seguro
contra incêndio, no valor de R$ 45 milhões.
Alvarás.
O
secretário municipal da Cultura, Nabil Bonduki, disse que um incêndio como o
que aconteceu é “devastador para a cultura brasileira”. Mas também é “um alerta
para a necessidade de ter as condições de segurança adequadas”. O complexo não
tem o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) nem o alvará de
funcionamento da Prefeitura.
A
falta do AVCB para o prédio foi confirmada pelo comandante dos bombeiros,
coronel Rogério Bernardes. Segundo ele, tudo “estava em processo de
regularização”.
Da
mesma forma, segundo a Prefeitura, o pedido de alvará de funcionamento do local
de reunião encontra¬se “em análise”. De acordo com a administração municipal,
contudo, “os atestados principais de segurança contra incêndio estão em dia”.
“O museu tem laudo técnico de segurança (apresentado pelos engenheiros
responsáveis técnicos) e também atestados em validade, inclusive o de brigada
de incêndio”, informa. Segundo a Prefeitura, o que falta para a emissão do
alvará de funcionamento é a apresentação da documentação da ID Brasil Cultura
Educação e Esporte, organização responsável pelo uso.
Para
Marcelo Araújo, o fato de o museu ficar em um prédio histórico com outros
equipamentos públicos dificulta a obtenção do alvará. “É um alvará único para
esse conjunto, que engloba estação, museu e outras áreas. E na parte do museu
não existe alvará. O que existem são os projetos que foram apresentados pelos
bombeiros e implementados”, disse.
Fonte: Estadão
 

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