Rubens Valente
Folha de São Paulo
Um
congresso que custou mais de R$ 277 mil, almoços de até R$ 9.000 e uma
“confraternização” de fim de ano ao custo de R$ 30 mil são alguns dos
gastos bancados pelo Fundo Partidário por meio da FUG (Fundação Ulysses
Guimarães), um braço do diretório nacional do PMDB dedicado à formação
política.
Os
dados constam da prestação de contas encaminhada pelo diretório da sigla ao TSE
(Tribunal Superior Eleitoral) relativas aos anos de 2015 e 2014.
O
Fundo é formado majoritariamente por recursos provenientes do Orçamento da
União, e gastos com seminários e congressos estão previstos na legislação.

Porém,
os documentos entregues pela FUG estão sob avaliação do TSE, cuja área técnica
ainda não deu parecer sobre a legalidade dos gastos.
No
período em que as despesas ocorreram, a FUG foi presidida por Moreira Franco
(PMDB-RJ) e Eliseu Padilha (PMDB-RS), dois dos mais próximos colaboradores do
presidente Michel Temer.
Padilha
é hoje ministro-chefe da Casa Civil e Moreira Franco é atual secretário de
Parcerias e Investimentos do governo federal.
Os
gastos para um congresso da FUG ocorrido em Brasília em novembro do ano passado
estão à altura de uma superprodução.
Foram
R$ 158 mil para o Hotel Nacional por aluguel de salas e quartos, R$ 30 mil para
a transmissão do evento ao vivo pela internet —o que mobilizou sete câmeras em
três salões diferentes— R$ 12 mil por serviços de iluminação, mais R$ 34,5 mil
para “serviço de comunicação visual”, outros R$ 5.000 por brindes
(uma sacola ecológica) e R$ 15 mil para um site divulgar textos de interesse do
evento e do PMDB.
O
congresso da FUG foi realizado em conjunto com um congresso nacional do PMDB,
que reuniu “centenas de peemedebistas”, segundo informou o partido na
época.
No
evento, que teve a participação do então vice-presidente Michel Temer, foi
debatido o texto “Uma ponte para o futuro”, que continha propostas do
partido “para tirar o país da crise”.
O
documento foi considerado um sinal de que o partido de Temer se preparava para
desembarcar do governo da então presidente Dilma Rousseff (PT), o que veio a
ocorrer cinco meses depois, em março de 2016.
FESTA
DE FIM DE ANO
 
No
mesmo período do congresso, a FUG aproveitou para promover uma
“confraternização” de final de ano com 45 pessoas.
O
almoço custou R$ 5,7 mil. Descrito nos documentos como “cardápio
vip”, incluiu salada, ravióli, nacos de robalo ao molho de camarão, filé
mignon com brócolis, risoto de funghi e batata ao creme de provolone, dois
tipos de sobremesa e mesa de café.
O
banquete saiu a R$ 111 por pessoa, além de mais R$ 15 mil para o aluguel de sala
em um centro de eventos de Brasília e outros gastos.
Em
maio de 2015, outra “reunião do PMDB” no hotel Nacional custou R$
28,6 mil.
Três
dias depois, um “curso de eleições municipais” custou mais R$ 25,7
mil no mesmo hotel.
Em
agosto de 2015, o Fundo Partidário custeou outro almoço para 300 pessoas a
título de “encontro estadual com prefeitos e vereadores do PMDB” do
Paraná.
A
conta em uma casa de carnes em Curitiba (PR) atingiu R$ 9.000.
Em
2014, a FUG também fez um “seminário sobre reforma política” no final
do ano no Rio de Janeiro.
No
hotel Windsor Atlântica, em Copacabana, gastou R$ 15 mil pelas diárias de dez
quartos simples e dois duplos. No restaurante do hotel, 42 pessoas jantaram ao
custo de R$ 4.100.
Saborearam
cinco garrafas de vinho a R$ 90 a unidade. No dia seguinte, foram 50 cafés da
manhã completos e mais 37 almoços, ao custo total de R$ 5.300.
 
OUTRAS
DESPESAS
 
Outros
gastos da FUG ao longo de 2015 incluem R$ 60 mil, em duas parcelas, para uma
empresa de Belo Horizonte (MG) prestar o “serviço de envio de mensagens
eletrônicas de voz e ligações com operadoras para encaminhar mensagens”.
Os documentos entregues ao TSE não permitem saber o conteúdo de tais mensagens.
Em
outubro do mesmo ano, a FUG procurou uma fotografia para usar em peças
publicitárias, durante um mês, em diferentes plataformas de comunicação.
Embora
tenha uma assessoria de imprensa fixa, que custa R$ 24 mil por mês durante todo
o ano, e contrate regularmente o serviço de uma agência de serviços
fotográficos, que recebeu R$ 72 mil em 2014 e mais R$ 24 mil em 2015, a
Fundação Ulysses Guimarães desembolsou R$ 6.000 para adquirir os direitos de
uso de uma imagem da agência internacional.
O
valor corresponde aos direitos autorais sobre quatro fotografias iguais, que
retratam um grupo de pessoas anônimas de perfil.
Procurada
pela Folha em agosto, a Fundação Ulysses Guimarães não se se manifestou
sobre a série de perguntas encaminhadas pela reportagem a respeito dos gastos
com Fundo Partidário.

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