Deputado desistiu
de renúncia e tenta salvar a mulher e a filha, dizem aliados.

BRASÍLIA
– A prisão do doleiro Lúcio Bolonha Funaro foi considerada pelo Palácio do
Planalto a “pá de cal” na situação do presidente afastado da Câmara, Eduardo
Cunha (PMDB-RJ). Para o governo, a prisão de Funaro deve sepultar de vez as
tentativas de Cunha de driblar as acusações de envolvimento com o esquema de
corrupção investigado na operação Lava-Jato. O agravamento de sua situação
jurídica, somado à reação negativa na Câmara a um acordo para salvá-lo da
cassação, levou o peemedebista a recuar da intenção de renunciar nos próximos
dias ao cargo de presidente. A avaliação feita por Cunha a seus aliados é que
sua eventual renúncia, a esta altura, não traria o efeito almejado de ajudar a
convencer os deputados a manter seu mandato.
Interlocutores
do presidente interino Michel Temer acreditam que o doleiro envolverá Cunha de
forma definitiva nas denúncias, deixando-o sem saída. O temor no governo é com
a reação que Cunha pode ter a este novo fato. Diariamente, chegam ao Planalto e
ao Congresso relatos de que Cunha estaria negociando com a Justiça para tentar
preservar sua mulher, Cláudia Cruz, ré por lavagem de dinheiro e evasão de
divisas na operação Lava-Jato, e sua filha Danielle Dytz, também investigada na
operação.
 
TROCA DE
INFORMAÇÕES
 
Parlamentares
dizem ter recebido recados do Ministério Público de que uma eventual delação
premiada de Cunha para livrá-lo da prisão não seria aceita. Mas, acreditam que
há espaço para o peemedebista negociar troca de informações para amenizar a
situação de sua família.

Prenderam o Funaro para pegar o Eduardo Cunha. Ele está muito preocupado com a
mulher e com a filha e nós sabemos que está negociando para aliviar o quadro
delas. O que não se sabe é o que ele vai oferecer em troca. Ele sempre diz que
não pretende expor ninguém, mas, em um momento de destempero, ninguém sabe o
que pode sair – afirma uma fonte do Planalto.
As novas
informações sobre a delação do ex-vice-presidente da Caixa, Fábio Cleto,
reforçam o movimento por um desfecho rápido para a situação de Cunha. O líder
do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), afirmou que esses dados se somam às
demais acusações e “reforçam a necessidade de cassar Cunha”. Já o
primeiro-secretário da Câmara, Beto Mansur (PRB-SP), disse que a Casa “não
aguenta mais” e que o calendário da Câmara não pode ser o calendário de Cunha.
 
MANOBRA
NA CCJ
 
Nos
bastidores, os defensores da saída de Cunha avaliam que ele ainda tentará
outras manobras para retardar uma definição da Câmara. Ele estaria atuando junto
à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde o deputado Ronaldo Fonseca
(PROS-DF) apresentará parecer na próxima terça-feira sobre o recurso de Cunha
para tentar forçar a volta de seu processo ao Conselho de Ética.
Segundo
aliados de Cunha, com o fechamento do cerco, o peemedebista teria descartado a
estratégia de renunciar para tentar preservar o mandato. A prioridade agora
seria ganhar tempo para buscar um acordo de preservação de sua mulher e de sua
filha. Para seus interlocutores, a renúncia agora apenas precipitaria sua
cassação, já que seria uma demonstração de enfraquecimento.
– Se ele
renunciar agora, acelera o processo de cassação do mandato. Ele renunciaria em
troca de nada, porque seria mais um sinal de enfraquecimento dele na Casa, e os
poucos que ainda o apoiam iriam abandoná-lo – disse um aliado.
Esses
deputados lembram que, na entrevista coletiva convocada por Cunha na semana
passada, ele apareceu sozinho, sem seu habitual séquito de deputados. Como
consequência da aparente fragilidade, mais deputados decidiram abandoná-lo.
O Globo

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