Em entrevista ao
jornal ‘Folha de São Paulo’, a presidente afastada disse que foi traída pelo
presidente interino.
 
Na
primeira entrevista concedida 18 dias depois de o Senado aprovar a
admissibilidade do processo de impeachment, a presidente afastada Dilma
Rousseff fez duros ataques ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, a quem,
segundo ela, “Temer terá de se ajoelhar”. A entrevista foi concedida na última
quinta-feira ao jornal “Folha de S. Paulo”, e publicada na edição antecipada deste
domingo.
“O
Eduardo Cunha é a pessoa central do governo Temer. Isso ficou claríssimo agora,
com a indicação do André Moura (para líder do governo na Câmara). Cunha não só
manda, ele é o governo Temer. E não há governo possível nos termos do Eduardo
Cunha” disse ela, completando: “Vão ter de se ajoelhar”.
Dilma
disse ter sido traída por Michel Temer. Perguntada se seu vice tinha lhe
traído, respondeu: “Óbvio. E não foi no dia do impeachment, foi antes, em
março. Quando as coisas ficaram claríssimas”, disse ela, que emendou: “Você
sempre acha que as pessoas têm caráter”.
Sobre
as conversas vazadas entre o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, e
líderes do PMDB, como ex-ministro Romero Jucá e o presidente do Senado, Renan
Calheiros, a presidente disse que os áudios revelam que o partido de Michel
Temer pretendia, ao assumir o governo, barrar as investigações da Lava-Jato.
“Eles
(os áudios) mostram que a causa real para o meu impeachment era a tentativa de
obstrução da operação Lava-Jato por parte de quem achava que, sem mudar o
governo, a sangria continuaria”, disse ela, referindo-se principalmente à Jucá,
que perdeu o cargo após ser flagrado tratando do que ele chamou de “delimitar”
as investigações.
Dilma
diz ainda acreditar que poderá voltar à Presidência. “Nós podemos reverter
isso. Vários senadores, quando votaram pela admissibilidade, disseram que não
estavam declarando (posição) pelo mérito (das acusações). Então eu acredito”.
Dilma
voltou classificar de golpe o processo que levou ao seu afastamento. “Sinto
muito, sabe, sinto muuuuuito se uma das características do golpe é detestar ser
chamado de golpe”. Dilma, reforçou a tese de que não houve crime de
responsabilidade na sua gestão.
Sobre
as medidas na economia tomadas pelo novo governo, Dilma foi irônica: “O pato tá
calado, sumido. O pato está impactado. Nós vamos pagar o pato do pato, é?”.
Sobre a emoção quando deixou o Palácio do Planalto, disse: “Eu não choro, não.
Nas dores intensas, eu não choro. Cada um é cada um, né?”.
O
Globo

Deixe um comentário

Copy link