Jornalista da Rede Globo virou alvo
de patrulhas após afirmar que Jair Bolsonaro é risco à democracia. Mais de 120
jornalistas já foram vítimas de ataques



EXAME – Defensores
de Jair Bolsonaro (PSL)
estão divulgando uma imagem da jornalista Miriam Leitão, da Rede Globo, datada
de seu fichamento durante a ditadura militar. “Presa assaltando banco portando
um revólver calibre 38… Essa é a Miriam Leitão”, afirma o texto com fotos da
jornalista da época.
Porém,
a jornalista nunca foi presa e processada por roubo a mão armada. A informação
falsa sugere que Miriam teria participado de um assalto à agência do Banespa,
em São Paulo, em outubro de 1968. À época ela tinha 15 anos de idade e morava
em Caratinga, Minas Gerais.
A
imagem vinculada ao processo em que foi absolvida é por ter participado do
PCdoB, um partido clandestino mas sem ligação com ações armadas.
Miriam
virou alvo da patrulha que tem difamado críticos de Bolsonaro nas redes sociais depois
de ter criticado o candidato no Bom Dia Brasil desta segunda-feira. “Bolsonaro
durante muito tempo criticou a democracia e fez a carreira em defesa da
ditadura e da tortura”, disse Miriam. “Muita gente compara os dois [Bolsonaro e
o PT], mas eles não são equivalentes. Jair Bolsonaro sempre teve um discurso
autoritário. O PT tem grupos que apoiam a Venezuela, mas é um partido que
nasceu, cresceu na democracia e sempre jogou o jogo democrático”, afirmou.
Segundo
cientista político Alberto Almeida, autor do livro A Cabeça do Brasileiro,
escreveu em sua conta no Twitter, a perseguição à jornalista é um sinal da
“ditadura moderna”. “Não é preciso fechar o regime, mas somente intimidar
fortemente quem faz qualquer crítica”.
Em
entrevista recente a EXAME, o cientista político americano Steven Levistky,
professor de Harvard e co-autor do livro Como as Democracias Morrem, afirma que
o nível de polarização na política brasileira coloca, sim, a democracia em
risco. “A polarização é muito perigosa. Ela pode matar uma democracia, porque
os políticos e os cidadãos não ficam em alerta para os riscos e se tornam menos
responsáveis em suas posições”, diz.
Neste
ambiente tóxico, os jornalistas são um alvo preferencial. A Associação
Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) registrou mais de 120 agressões
a jornalistas em contexto político partidário e eleitoral este ano. Foram 59
atentados físicos e 64 ocorrências de assédio digital, como o que agora sofre
Miriam Leitão.

“Um
país que não compreende a diferença entre crítica ao trabalho jornalístico e
violência contra profissionais da imprensa coloca a democracia e a si próprio
em grave risco”, diz a Abraji em nota divulgada no sábado (6).
Segundo
estudo da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio
Vargas, entre 18 de setembro e 2 de outubro 945.3000 postagens no Twitter
abordaram a cobertura da imprensa em relação às eleições. A Abraji já veio a
público repudiar ataques contra jornalistas da Folha, da Veja e do The
Intercept.

Deixe um comentário

Copy link