Uma nova Arca de Noé acaba de ser inaugurada na cidade americana de
Williamstown, após anos de controvérsia.

Com 300
côvados de comprimento, 50 de largura e 20 de altura – as unidades de medida
arcaicas sugeridas pelo Antigo Testamento -, uma nova Arca de Noé acaba de ser
inaugurada na cidade americana de Williamstown, após anos de controvérsia.
A
embarcação é o carro-chefe do parque temático religioso Ark Encounter e sua
construção, que levou seis anos, custou US$ 100 milhões (R$ 330 milhões). As
obras foram financiadas por doações privadas.
A arca
demandou quase 8 mil metros cúbicos de madeira e suas medidas (desta vez no
sistema métrico) são 155m x 26m x 15m. Dimensões que, segundo a Bíblia, foram
as exigidas por Deus quando ordenou a Noé a construção da embarcação usada para
preservar as espécies animais durante o Dilúvio.
 
No
interior, há três pisos explicando a história contada no Gênesis. Há 100
modelos de animais, incluindo uma polêmica participação de dinossauros.
Não há
qualquer referência no primeiro livro da Bíblia à presença de criaturas
pré-históricas na arca, até porque, segundo a ciência, estes animais foram
extintos mais de 150 milhões de anos antes do surgimento do primeiro ancestral
humano.
Porém, os
idealizadores do parque incluíram os dinossauros como parte de sua defesa da
teoria de que Deus criou todos os seres vivos.
A Answers
in Genesis (“Respostas em Gênesis”, em tradução literal), empresa por
trás do projeto, disse à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC, que espera
receber 16 mil visitantes por dia.
“Em
um mundo cada vez mais laico e tendencioso, é hora de nós cristãos fazermos
algo”, disse Ken Ham, fundador da empresa, durante a abertura do parque na
última quinta-feira.
No
entanto, a arca atraiu críticas e uma disputa judicial antes mesmo de receber
seu primeiro visitante.
“Basicamente,
este barco é uma capela criando filhos cientificamente analfabetos”, disse
à agência de notícias AP Jim Helton, morador vizinho ao parque.
 
Incentivo fiscal 
Uma das
críticas à Answers in Genesis é que a empresa inicialmente teve aprovada uma
verba de US$ 18,25 milhões (R$ 60 milhões) em incentivos fiscais com base na
Lei de Desenvolvimento Turístico do Estado do Kentucky.
O governo
chegou a cancelar o repasse depois de que veio a público o fato de a Answers in
Genesis exigir que seus empregados declarem por escrito, em contrato, sua fé
cristã.
Mas a
empresa venceu a causa na Justiça usando como argumento a Primeira Emenda da
Constituição Americana – justamente a que fala em liberdade religiosa.
A Answers
in Genesis afirma que não recebeu “dólar algum dos contribuintes”
para construir a arca, e que o incentivo veio do não-recolhimento de impostos
sobre a venda de ingressos, comida e outros produtos.
 
‘Declaração de Fé’ 
“A
lei permite deduzirmos impostos sobre as vendas até US$ 18,25 milhões por um
prazo de 10 anos”, disse Mark Looy, porta-voz da empresa.
Looy
explicou ainda que a “Declaração de Fé” que os empregados precisam
assinar tem o propósito de “preservar o funcionamento e a integridade da
empresa em sua missão de anunciar a verdade absoluta e a autoridade das
Escrituras e para proporcionar um modelo bíblico a nossos empregados”.

Os
funcionários precisam reconhecer a Bíblia como “a autoridade suprema”
e que o Dilúvio é um “fato histórico”, bem como a existência de Deus
e do Diabo.

“Qualquer
forma de imoralidade, como o adultério, sexo por prazer, homosexualidade,
lesbianismo, conduta bissexual, bestialismo, incesto, pornografia ou qualquer
intenção de mudar de gênero é pecado e ofensivo a Deus”, diz a declaração.
Para
o juiz Greg van Tatenhove, porém, a empresa tem liberdade para fazer suas
contratações.
 
“Somos
uma organização religiosa e a lei nos dá direito a utilizar uma preferência
religiosa como base para a nossa contratação”, disse Ham em janeiro.
 
Madeira
polêmica
 
Apesar
de o Ark Encounter se apresentar como uma empresa “verde”, a
quantidade de madeira usada na construção da arca despertou críticas.
Os 153 metros de comprimento da arca ocupam mais que um campo de futebol americano
Mas
Looy assegura que os 980 quilômetros de tábuas – se colocadas em linha reta –
são de árvores que estavam condenadas por causa de pragas.
 
Outra
crítica ao projeto é relacionada ao design da arca, considerado moderno demais
“A
Bíblia não diz que deveria ser uma caixa retangular”, defende Looy.
 
Os
ingressos para visitar o local custam US$ 40 (R$ 132) para adultos e US$ 28 (R$
92) para crianças.

 

BBC BRASIL

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