Bilhões recuperados e condenações que somam mais de 2 mil anos conseguidas pela Lava Jato ofuscam a vida tranquila de delatores da operação que forneceram informações de valor restrito.

A República das Delações na qual o Brasil se transformou nos últimos cinco anos, duas prometeram implodir dois dos principais partidos. Em 2016, as acusações de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, empresa de transporte da Petrobras, prometiam acabar com o MDB. A confissão de Delcídio do Amaral, então senador petista, também em 2016, parecia ser o fim do mundo para o PT. Passados quase três anos, ÉPOCA foi investigar como vivem Machado e Delcídio e os resultados das duas delações mais citadas pelos críticos do instrumento da delação premiada.


Em Fortaleza, a reportagem encontrou um terreno cercado por largos muros de pedras com seis camadas de cabos eletrificados no topo, uma guarita suspensa de onde o vigia pode enxergar toda a redondeza e, ali perto, a imensidão do Oceano Atlântico. Essa poderia ser a descrição de uma cadeia de segurança máxima em alguma ilha deserta. Mas, dos muros para dentro, uma mansão com quadras poliesportivas, um cata-vento gigante para produção de energia eólica, piscinas e várias construções luxuosas na verdade é a gaiola de ouro onde vem se escondendo, nos últimos dois anos e nove meses, o homem bomba do MDB, Sérgio Machado. A confissão, em maio de 2016, feita por meio de uma delação premiada, entretanto, não lhe rendeu um só dia de prisão, e, passados quase três anos, a investigação caminha a passos lentos no Judiciário. Machado nem sequer tem o incômodo da tornozeleira eletrônica.


Já o ex-senador Delcídio do Amaral, de Mato Grosso do Sul, tornou-se colaborador da Lava Jato depois de descrever em 21 depoimentos crimes sendo cometidos por figuras como os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Aécio Neves. Após ser cassado pelo plenário do Senado Federal, em placar acachapante — 74 votos a um —, abandonado por seus pares, decidiu colaborar com a Justiça.


Desdobramento de apurações nos últimos dois anos e meio, análise de provas levadas aos autos e depoimentos complementares mostram o baixo valor da colaboração do ex-petista às investigações. Ex-burocrata de governos tucanos na área de energia nos anos 90 e influente liderança petista do Legislativo nas gestões de Lula e de Dilma — período em que despachava quase diariamente com o presidente e seus ministros no Palácio do Planalto —, Amaral sempre foi sujeito com aguçado senso de oportunidade: foi PSDB quando convinha ser PSDB, PT quando o melhor era ser PT e, ao que parece, em tempos de Lava Jato, delator quando era propício ser delator. Hoje, divide sua rotina entre São Paulo, onde vive parte de sua família, e Campo Grande, onde cuida da propriedade que pertenceu a seus pais. Os anos de exílio político não afetaram o espírito bon vivant — é figura carimbada nas colunas sociais da cidade.

Época

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