Neste
sábado, o jornal O Globo, de João Roberto Marinho
,
descartou de vez o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que foi peça vital no
golpe parlamentar apoiado pelo grupo de comunicação. Confira abaixo:

Cunha
ultrapassa todos os limites
Um dos personagens
centrais da crise política, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deputado de mandato
suspenso pelo Supremo, parece estar cada vez mais próximo dos cadafalsos
colocados à sua frente, nos planos político-parlamentar e judicial. Não é
sempre que um político enfrenta tantas ameaças, e todas justificadas.
Impressiona o número de
problemas que o deputado semeou contra si mesmo. O ministro do Supremo Teori
Zavascki, relator das denúncias na Lava-Jato contra políticos com foro
privilegiado, acaba, por exemplo, de liberar para julgamento pela Corte o
processo em que o deputado é acusado de ter aberto contas bancárias na Suíça
para abastecê-las de dinheiro de propinas.
Já anteontem, a mulher de
Cunha, Cláudia Cruz, sem foro especial, virou ré na Lava-Jato, e deverá ser
julgada por Sérgio Moro, por ter, segundo o Ministério Público, se beneficiado
de milhares de dólares dessas contas de Cunha.
Dinheiro do contribuinte,
segundo o procurador Deltan Dallagnol, “convertido em sapatos e roupas de
grife”. Para piorar a situação de Cunha, o encaminhamento da denúncia contra
Cláudia pulveriza a argumento que usa no processo de cassação que enfrenta no
Conselho de Ética da Câmara, de que as contas são de um trust e não dele. Para
a Lava-Jato, Cunha é o trust, como parece óbvio.
 
O deputado, a quem o
ministro Teori concedeu cinco dias de prazo para se defender em outro processo,
este sobre uma propina de US$ 5 milhões cobrada num contrato de aluguel de
navios-sonda à Petrobras, ainda tem contra si um pedido de prisão preventiva do
procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Motivo: mesmo suspenso do
mandato, e, por tabela, da presidência da Câmara, Cunha continua a manobrar
para que o Conselho de Ética não aprove a proposta de sua cassação. Por ter
mentido na CPI da Petrobras, ao garantir que não tinha contas ocultas no
exterior — foi desmascarado com provas documentais.
Uma das últimas
manipulações de Cunha no Conselho é garantir com o PRB, partido da deputada Tia
Eron (BA), o voto dela sobre o relatório do pedido de impeachment, e que pode
ser decisivo. O presidente licenciado do partido, Marcos Pereira, ministro de
Temer na Indústria e Comércio, seria elo da trama montada para livrar Cunha
integralmente ou condená-lo a uma pena leve, como suspensão. Mas a maré não
está mesmo favorável ao deputado, e não apenas devido ao avanço da Lava-Jato
sobre as contas suíças, pelo flanco dos gastos luxuosos de Cláudia Cruz.
Também cresce de
importância a atuação de Cunha na CEF, por meio do vice-presidente Fábio Cleto,
indicado por ele e demitido por Dilma assim que o deputado aceitou o pedido de
impeachment. Pois Cleto aceitou fazer delação premiada, e assim se cravam mais
estacadas no peito de Cunha.
Só os empresários da
Carioca Engenharia, Ricardo Pernambuco e Ricardo Pernambuco Jr., relatam
propinas de R$ 52 milhões para Cunha, a fim de liberar recursos para obras no
Porto Maravilha, de responsabilidade da Odebrecht e da OAS. É uma aula prática
de por que políticos querem nomear diretores de banco públicos. O caso fez
Janot, ontem, encaminhar mais uma denúncia contra Cunha. Que o governo Temer
não se envolva em tentativas de defender o indefensável.

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