Operadora informou juiz Sergio Moro sobre
grampo em escritório de advocacia

Por Marcos de Vasconcellos
A operadora de telefonia que executou a ordem
para interceptar o ramal central do escritório de advocacia Teixeira, Martins e
Advogados já havia informado duas vezes ao juiz federal Sergio Fernando Moro
que o número grampeado pertencia à banca, que conta com 25 advogados. Apesar
disso, em ofício enviado ao Supremo Tribunal Federal nesta semana, Moro afirmou
desconhecer o grampo determinado por ele na operação “lava jato”.
Dois ofícios enviados pela Telefônica à 13ª
Vara Federal de Curitiba, no dia 23 de fevereiro (quando foram determinados os
grampos) e outro do dia 7 de março (quando foram prorrogadas as escutas),
discriminam cada um dos números que Moro mandou interceptar. Os documentos
deixam claro que um dos telefones grampeados pertence ao Teixeira, Martins e
Advogados, descrevendo, inclusive, o endereço da banca.
Os documentos estão no processo que
determinou a quebra do sigilo também dos telefones do Instituto Lula e de seu
presidente, Paulo Okamotto; do Instituto de Pesquisas e Estudos dos
Trabalhadores; bem como de Vania de Moraes Santos, Elson Pereira Vieira e Clara
Ant.
Os ofícios colocam em xeque a afirmação feita
por Moro em documento enviado ao Supremo no último dia 29, no qual o juiz
confirma ter autorizado o grampo no celular do advogado do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, Roberto Teixeira, mas diz não saber das interceptações
telefônicas do seu escritório.
Ao se explicar para o STF, Moro afirmou:
“Desconhece este juízo que tenha sido interceptado outro terminal dele [Roberto
Teixeira] ou terminal com ramal de escritório de advocacia. Se foi, essas
questões não foram trazidas até o momento à deliberação deste juízo pela parte
interessada”.
Além dos documentos da empresa Telefônica
enviados a Moro em fevereiro e março, o próprio Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil já havia enviado um ofício ao juiz federal requerendo
informações sobre a interceptação dos telefones do escritório Teixeira, Martins
e Advogados durante a “lava jato”, uma semana antes de o juiz enviar ao STF o
documento interpretado como um pedido de desculpas pelos transtornos causados
com a divulgação de conversas da presidente Dilma Rousseff.
A assessoria de imprensa da Justiça Federal
do Paraná afirmou que não vai se manifestar sobre o assunto.

Em pauta
O assunto pode esquentar a discussão nesta
quinta-feira (31/3) no Supremo Tribunal Federal, uma vez que, segundo a pauta
de julgamento, o Plenário vai deliberar sobre a decisão liminar do ministro
Teori Zavascki que determinou a remessa ao STF de procedimentos em trâmite na
13ª Vara Federal de Curitiba que envolvam interceptação de conversas
telefônicas do ex-presidente Lula.
Esta reclamação, especificamente, aponta o
fato de as interceptações registrarem diálogos com a presidente da República,
Dilma Rousseff, e com outros agentes públicos que detêm prerrogativa de foro.
Teori decidiu que cabe apenas ao STF decidir sobre a necessidade de
desmembramento de investigações que envolvam autoridades com prerrogativa de
foro. 
Sigilo ameaçado
Reportagem da ConJur mostrou que o Ministério
Público Federal indicou o número do escritório como se fosse de uma empresa do
ex-presidente Lula (Lils Palestras e Eventos), conseguindo que segredos e
estratégias de defesa em centenas de casos chegassem às mãos dos acusadores
antes de serem levadas aos tribunais. O MPF diz que foi por engano, mas
silencia a respeito da destruição das conversas.
O resultou foi que conversas de todos os 25
advogados do escritório com pelo menos 300 clientes foram grampeadas, além de
telefonemas de empregados e estagiários da banca. Levando em conta a fatura
telefônica do Teixeira, Martins e Advogados, à qual a ConJur teve acesso, é
possível concluir que ao menos 100 horas de conversas estão arquivadas no
sistema Guardião do MPF. O sistema não intercepta, mas organiza e armazena os
dados e conversas dos grampos, permitindo inclusive o cruzamento de dados por
hora, dia e até pela voz do alvo. 
Os membros da força-tarefa da operação “lava
jato” afirmaram que o telefone do Teixeira, Martins foi incluído no pedido por
constar no site “FoneEmpresas” como sendo da Lils Palestras e
Eventos. Além disso, os membros do MPF ressaltam que Moro autorizou a interceptação.
Uma busca pelo número de telefone no Google, no entanto, já traz em seus
primeiros resultados o escritório de advocacia.
A ConJur 
também ligou para o número indicado no processo e ouviu a gravação que
começa com a seguinte frase: “Você ligou para Teixeira, Martins e Advogados”.
Durante a interceptação por pelo menos 30 dias, os investigadores parecem não
ter percebido o “engano”. Os procuradores argumentam ainda que não juntaram
transcrições das escutas do telefone central do escritório nos autos do processo
— constando no relatório os registros das ligações envolvendo o número.
Segundo o processo, Moro autorizou essa
escuta por entender que ela poderia “melhor esclarecer a relação do
ex-Presidente com as empreiteiras [Odebrecht e OAS] e os motivos da aparente
ocultação de patrimônio e dos benefícios custeados pelas empreiteiras em
relação aos dois imóveis [o triplex em Guarujá (SP) e o sítio em Atibaia
(SP)]”.

Clique
aqui
e aqui
para ler os ofícios enviados à 13ª Vara Federal de Curitiba.

Fonte: CONJUR

 


 

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