Sobrevivente de dois terremotos no Haiti,
Nadine Taleis, 35 anos, se tornou advogada, quer trabalhar na área e passar em
concurso da AGU


As dificuldades enfrentadas por Nadine Taleis, 35 anos, não foram suficientes para que ela desistisse dos estudos. Agora, ela colhe os frutos de sua dedicação, disciplina e amor aos livros. Cega, a haitiana se tornou advogada. Na manhã desta sexta-feira (7/12), recebeu a carteira da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Distrito Federal (OAB-DF). Durante a cerimônia, anunciou: “Meu sonho é ser juíza”.
Emocionada, Nadine disse estar muito feliz. ”Parece que eu estou em um sonho. Quando cheguei ao Brasil, vivi um pesadelo e agora eu estou acordando”, contou. A advogada sobreviveu a dois terremotos em Porto Príncipe, no Haiti, em 2010. Em seguida, foi morar com os tios na República Dominicana, até decidir se mudar para o Brasil, em 2013.
Ao chegar em terras brasileiras, morou durante três meses em um abrigo improvisado e superlotado para refugiados e imigrantes no Acre. No mesmo ano, veio para o Distrito Federal com o objetivo de estudar e conheceu seus “pais adotivos” – Carlos e Loide Wanderley. Foi acolhida e recebeu a ajuda necessária, inclusive financeira, para se dedicar à faculdade.
Disciplinada, agarrou a chance. “Meu pai haitiano sempre foi muito rígido comigo. Me acordava às 5h para estudar. O dinheiro que a minha mãe dava para eu me alimentar, pagava a faculdade e confesso que, às vezes, cheguei a passar fome porque aplicava toda a quantia nos estudos”, lembrou.
Ela cursou direito na Faculdade Mauá, em Vicente Pires. Conta que pagou as cinco primeiras mensalidades e depois conseguiu uma bolsa integral. Agora, formada e com a carteira da Ordem, planeja fazer concurso para ingressar na Advocacia-Geral da União (AGU). E sonha voos ainda mais altos: ser juíza.
Durante o discurso na OAB-DF, a advogada, que fala cinco línguas (crioula, francês, espanhol, inglês e português) agradeceu aos familiares, amigos e professoras por todo apoio recebido e aproveitou para fazer uma reivindicação: “Precisamos de acessibilidade para que a gente possa colocar a nossa capacidade a favor da sociedade”.
Nadine recebeu do presidente da OAB-DF, Juliano Costa Couto, um certificado de oradora e dois estatutos de direito em braille. “Nadine tem uma deficiência visual, mas uma visão de mundo maior que a de muitas pessoas”, disse o representante da Ordem no DF.
De imediato, ela busca uma oportunidade de trabalhar em um escritório de advocacia. “Quero dar continuidade aos estudos. Sou muito apaixonada pelo direito”, afirmou a advogada, que ficou praticamente cega com 1 ano de idade, em função de uma catarata. Atualmente, tem apenas 15% da visão.

Deixe um comentário

Copy link