A
menos de três meses para as eleições, o Partido Socialista dos Trabalhadores
Unificado (PSTU) se dividiu e uma nova legenda deverá ser formada com cerca de
700 dissidentes. Em Natal, a vereadora Amanda Gurgel segue este grupo, mas
ainda não está oficialmente fora da sigla. Contudo, a reeleição dela não
contará mais com o apoio do partido.
Fenômeno
das eleições passadas, com mais de 32.819 votos, Amanda Gurgel explica que sua
relação eleitoral e de filiada permanece no PSTU. “A ruptura que estamos tendo
agora é do ponto de vista político. É uma separação amigável. Ambos os lados
entendem que as divergências, nesse momento, não seriam superadas nem há
possibilidade de uma proposta única para atender os dois grupos”, explica a
vereadora.
No
Rio Grande do Norte, mais precisamente em Natal, 22 pessoas que seguiam as
orientações do partido decidiram deixar a legenda, na prática. Na teoria, ainda
estão oficialmente filiados. “Não nos reunimos, nem fazemos mais parte. Estamos
ficando na legenda porque aconteceu no período em que não temos como ter outra
localização neste momento eleitoral. Não temos perspectiva de ir para outra
legenda ou legalizar um novo partido agora”, conta Amanda Gurgel. Toda a
atuação a partir de agora, diz, não será mais para o PSTU, mas para construir
uma nova organização.
Com
isso, as dificuldades para as eleições que ocorrerão em menos de três meses
deverão aumentar, de acordo com as previsões da vereadora. A dissidência dentro
do partido ocorre de forma pacífica, mas reduz o número de militantes em cada
lado e, provavelmente, o potencial de doações para a campanha. Amanda também
deve perder o apoio financeiro do partido e o tempo de propaganda em rádio e
televisão, que já é mínimo.

“Teremos
mais dificuldade porque temos menos militantes na nossa organização. Não
sabemos se o PSTU vai disponibilizar tempo de TV. Dessa vez o provavel é que
não tenhamos ajuda financeira que o partido mantém nas campanhas, mas do ponto
de vista eleitoral, aceitação do público e divulgação das propostas não teremos
grande impacto do rompimento. Temos toda a disposição para utilizar as redes
sociais e chamar as pessoas para dar um passo à frente”, declara Amanda.
O
esforço será para conseguir fortalecer o pequeno grupo, estimular e conseguir
novas adesões. Desse grupo, o engajamento será essencial para disseminar as
propostas de campanha e arrecadar fundos para os custos da mesma. Por outro
lado, Amanda não terá mais interferência do partido no mandato. Segundo diz,
esse é mais um ponto que ficou acordado. Antes o PSTU coordenava parte dos
recursos do salário e da verba de gabinete, que agora ficam a inteira
disposição do mandato. Em todo o país, o PSTU tem apenas dois parlamentares:
Amanda em Natal e Kleber Rabelo, em Belém/PA. Ele permanece na sigla.
Ainda
sobre as eleições, Amanda diz que qualquer decisão sobre formação de coligação
e até candidatura na chapa majoritária, não terá mais sua participação. Ela
defendia apenas coligações na proporcional para fortalecer a representatividade
da esquerda no parlamento, mas se posicionava contrária ao partido lançar
candidato a prefeitura.
“A
decisão vai ser tomada pelos que optaram ficar no partido. Eu defendia que os
partidos de esquerda estivessem unidos não apenas nas manifestações, mas nas
eleições para que demarcássemos um campo de esquerda para enfrentar a burguesia
com PSOL, PCB e PSTU e outras organizações de esquerda. Não tinhamos a defesa
de uma candidatura na majoritária”, afirma.
Para
o resultado das urnas neste ano não é esperado o mesmo fenômeno de votos do
pleito de 2012, mas ela está confiante na reeleição e diz que dependerá do
trabalho e engajamento dos militantes. “Foi um fenômeno eleitoral e
dificilmente isso se repete. Estamos conscientes, mas confiantes na possibilidade
da reeleição, que só será possível se nossa militância se jogar e fizer apoio
político e financeiro; nessas condições, acreditamos que poderemos ter grande
chance de reeleição”, conclui.
O
NOVO procurou o presidente estadual do PSTU, Dário Barbosa, que permanece à
frente da legenda, para que se pronunciasse sobre a nova realidade do partido,
mas não conseguiu contato durante toda a tarde de ontem (6).

Impeacment
provocou rompimento
 
Entre
os pontos divergentes entre os militantes do PSTU, dois se destacam e estão
diretamente ligados ao processo de impeachment da presidente (afastada) Dilma
Rousseff (PT) e da ascenção do seu vice, presidente (interino) Michel Temer
(PMDB), além de outras discordâncias em torno dos movimentos de lutas de classe
ao longo dos anos. A legenda foi fundada em 1993, a partir de um rompimento com
o PT.
O
partido emitiu ontem um comunicado informando sobre a dissidência que está
sofrendo. Explicou que defende o afastamento de todos os políticos envolvidos
nos escândalos de corrupção no movimento chamado “Fora Todos Eles”, mas os
descontentes querem que o PSTU se posicione contra o afastamento de Dilma
porque acreditam que o impeachment foi uma “manobra” arquitetada pela Direita e
que não tem legitimidade.Apesar disso,continuam se posicionando como oposição a
Dilma. Defendiam também que a legenda participasse dos atos da Frente Povo Sem
Medo, encabeçada pelo PSOL e MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) para a
formação de uma aliança de esquerda que tivesse como eixo o combate ao impeachment.
A
nota da direção nacional do PSTU disse que a maioria do partido rechaçou esta
posição por considerar que o “não ao impeachment” e “a participação em atos da
Frente Povo Sem Medo significava, na prática, a mesma postura política da
campanha contra o suposto golpe, deflagrada pelo PT para tentar manter Dilma no
governo”. Disse ainda que os dissidentes dão muita importância “às eleições
burguesas, maior do que elas deveriam ter para os revolucionários”.
Em
Natal, está programado para o próximo dia 15, no auditório do SindSaude, a
apresentação do manifesto intitulado “É preciso arrancar alegria ao futuro”,
elaborado pelos dissidentes. O ato nacional de lançamento ocorre no dia 23 em
São Paulo com transmissão on line. O grupo defende no manifesto que o combate
ao impeachment não pode “ser apropriado pela direção do PT em seu projeto de
voltar ao poder com a candidatura, em 2018, de Luiz Inácio Lula da Silva, por
isso a necessidade de o partido tomar uma posição”. Afirma ainda que deve ser
construída “a mais ampla unidade na ação prática, na luta comum, e avaliamos
que esta luta passa hoje pela bandeira do Fora Temer”.

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