O deputado Jovair
Arantes (PTB-GO), relator da Comissão Especial do Impeachment da Câmara, não
explicou o motivo para ter apresentado os projetos

Em sua biografia na internet, o deputado Jovair Arantes (PTB-GO), relator
do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), afirma que
“sua atuação esteve sempre ligada à saúde, desenvolvendo uma política
comprometida com a saúde pública”.
No entanto, os projetos de lei do seu
quinto e atual mandato ficam longe dessa plataforma. O parlamentar
apresentou mais de 100 propostas, emendas e requerimentos nos últimos 16 meses,
nenhum deles na área de saúde. A média nessa
legislatura foi de 34 propostas por parlamentar.
Do total, 21 projetos [média de 1,3
por mês] tratam de áreas bem díspares da saúde, como agricultura, aviação
civil, indústria de bebidas, mineração, mercado financeiro e telecomunicações.
Alguns preveem isenções e diminuições de alíquotas tributárias; outros,
afrouxamento de regras trabalhistas ou ambientais.  
Com focos tão diversos, os 21
projetos de lei têm algo em comum: todos são de áreas de interesse das empresas
doadoras do deputado.
Oficialmente, Jovair Arantes
recebeu doações para sua campanha de 2014 de oito empresas. Juntas, doaram R$
1,192 milhão ao deputado, do total de R$ 1,5 milhão, segundo a sua declaração
ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A diferença entre os valores foram
doações feitas por pessoas físicas.
O projeto mais próximo da área da
saúde que o parlamentar apresentou, nesse mandato, foi o Requerimento
2787/2015. O teor: “Requer nos termos do art. 117, inciso 19 do Regimento
Interno, Voto de Louvor em homenagem ao Cantor Garth Brooks pela
realização de show beneficente para o Hospital de Câncer da cidade de
Barretos/SP”. Foi arquivado. Arantes, formado em odontologia, foi
diretor de hospital e secretário da Saúde em Goiânia.
O PTB (Partido Trabalhista
Brasileiro) é a terceira sigla a que se filiou Arantes. Antes, foi do PMDB (1993-1993)
e do PSDB (2000 a 2003). O UOL perguntou à assessoria do próprio parlamentar
sobre a coincidência entre doações e projetos de lei, mas ele preferiu não se
pronunciar. O primeiro contato com sua assessoria foi feito por telefone no
último dia 6. Conforme solicitada, a reportagem enviou, por e-mail e por
Whatsapp, todas as perguntas referentes ao assunto em questão. Nesta
segunda-feira (11), o UOL voltou a entrar em contato com o gabinete do
deputado, que informou, por email, que ele não comentaria o assunto.
Relação com Cunha
Um outro fato chama a atenção. Seis
das oito empresas que doaram para Arantes doaram também para o deputado Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), tendo sido as maiores doadoras de sua campanha. O presidente
da Câmara teve sua campanha financiada pelos mesmos setores que patrocinaram a
eleição do relator do processo de impeachment. Questionado pela reportagem a
respeito do assunto, o gabinete de Eduardo Cunha informou que o deputado não
iria se pronunciar.

Além das empresas doadoras e a defesa
de seus interesses, Cunha e Arantes têm outra coisa em comum: o advogado Renato
Oliveira Ramos, que assessora Arantes na relatoria do processo de impeachment,
presta serviços ao PMDB e já advogou em favor do presidente da Câmara em
diversas ações no STF (Supremo Tribunal Federal).
Seis
das oito maiores doadoras da campanha de Jovair Arantes (PTB-GO)
também doaram
para Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
A respeito deste assunto, a
assessoria do peemedebista disse ao UOL que o advogado
em questão, Renato Ramos, trabalhava para o PMDB quando prestou serviços a
Cunha. Posteriormente, foi contratado pela liderança do PTB como assessor
jurídica, e por meio desta nova atribuição foi que Ramos trabalhou com Jovair
Arantes, que é líder do PTB na Câmara.
Da flexibilização da lei seca a isenções tributárias
Veja, abaixo, a lista de empresas
doadoras da campanha de Jovair Arantes, divididas por setores, bem como os
projetos de lei propostos pelo parlamentar que atendem aos interesses dessas
companhias. 
1 – Telecomunicações
A empresa de telecomunicações
Telemont, fornecedora de equipamentos e tecnologia para as maiores companhias
de telefonia do país, é a maior doadora individual da campanha de Jovair Arantes
e a segunda maior de Eduardo Cunha: doou R$ 553 mil e R$ 900 mil para cada
um, respectivamente.
Durante seu atual mandato, Arantes propôs a Emenda de Comissão 16/2015, que pretende
reduzir a zero as alíquotas da contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins
incidentes sobre a receita bruta de venda de produtos de telecomunicação
(modens, roteadores e telefones móveis, entre outros) para governos e instituições
públicas. 
2 – Indústria de bebidas 

Jovair Arantes recebeu R$ 228
mil de fabricantes de bebidas, sendo R$ 100 mil da Coca-Cola e suas
distribuidoras e o restante da Ambev, maior fabricante de cervejas do
país. As mesmas empresas também foram doadoras de Eduardo Cunha, em um montante
que chegou a R$ 1,775 milhão. As informações contam na prestação de contas dos
deputados enviadas ao TSE.
Do início de 2015 para cá, o deputado
apresentou três projetos em favor dos fabricantes de bebidas. Dois deles,
Emenda de Comissão 16/2015 e a Emenda de Plenário 102/2015, tratam de redução
de impostos para o setor, sendo que a primeira também inclui redução de
impostos para equipamentos de telecom. Já o Requerimento 3047/2015 tem por objetivo
alterar o Código de Trânsito Brasileiro, para que seja permitido conduzir
veículos após ingerir pequenas quantidades de bebida alcoólica. 

3 – Mineração
Arantes recebeu R$ 50 mil durante sua
campanha da empresa Sama S.A. Minerações Associadas. Já Eduardo Cunha
ganhou R$ 700 mil da Mineração Corumbaense Reunidas S.A. Além disso, a
mineradora Rima Industrial S.A. doou R$ 150 mil ao petebista e R$ 1 milhão ao
presidente da Câmara.
Jovair Arantes apresentou
três projetos de interesse do setor minerador no atual mandato. O Requerimento 2524/2015 “prorroga o
prazo para a disposição final ambientalmente adequada de rejeitos
industriais”, incluindo os que são consequência da atividade de mineração.
Já o Requerimento 2531/2015 visa tornar sem efeito uma portaria
do Ministério do Trabalho de 1991 que institui limites de tolerância para
poeiras minerais conhecidas como asbestos. Na justificativa apresentada, o
argumento é que novos estudos científicos teriam comprovado que tal resíduo não
traria mal à saúde dos trabalhadores. A portaria ministerial é baseada em uma
Convenção da Organização Internacional do Trabalho, que foi ratificada pelo
governo brasileiro, que aponta para os riscos que tais poeiras minerais trazem
àqueles que são expostos a ela com grande frequência.
Finalmente, o Requerimento 2532/2015 tem por objetivo
anular uma portaria do Ministério da Saúde que obriga as empresas mineradoras a
enviar à pasta a lista de trabalhadores expostos ao amianto nas atividades de
extração, industrialização, utilização, manipulação, comercialização e
transporte do produto.

4 – Aviação Civil
Em sua campanha a deputado federal em
2014, Jovair Arantes recebeu R$ 35 mil da Globo Aviação Táxi Aéreo.
Eduardo Cunha, por sua vez, embolsou R$ 700 mil da Líder Táxi Aéreo.
De lá para cá, o petebista apresentou três projetos de interesse do
setor. O Requerimento 3613/2015 propõe reduções
tributárias para o transporte aéreo por meio de aeronaves de pequeno porte. Já
Emenda na Comissão 54/2014 pretende
incluir as empresas de táxi aéreo em uma medida provisória que estabeleceu
isenções tributárias para as companhias aéreas convencionais. Por fim, o Projeto de Lei 3011/2015 pretende alterar a chamada Taxa de
Fiscalização da Aviação Civil, tornando-a menor para as empresas de táxi aéreo. 
5 – Agronegócio
Jovair Arantes recebeu R$ 80 mil da empresa Uruaçu Açúcar e
Álcool. Em seu mandato até agora, propôs cinco projetos de interesse do setor,
todos versando sobre o mesmo assunto: melhoria nas condições
de renegociação de dívidas de empresas do agronegócio com o poder público
e facilitação ao acesso ao crédito rural por parte dos grandes produtores. 
6 – Mercado Financeiro
A Liderança Capitalização doou R$ 150
mil a Jovair Arantes em 2015. Já Bradesco Seguros, Santander e Banco Safra
doaram, juntos, R$ 850 mil a Eduardo Cunha.
O petebista já apresentou sete
projetos de interesse do setor financeiro do início de 2015 até hoje. Eles
versam sobre mudanças no Código Tributário Nacional e redução da tributação no
setor de seguros.
Por Pedro Lopes e Vinícius Segalla
Do UOL, em São Paulo
 

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